Telefônicos (des) entendimentos.

Toca o telefone. Não passam de oito da manhã.

_ Alô.
_ Oi, é do banco xxxxx?
_Não. Você deve ter discado errado.

Caminho de volta para o quarto. Ainda na porta ouço novamente o telefone. Retorno à sala e atendo.

_Alô.
_ Oi, posso falar com o gerente?

Simplesmente desligo o telefone. Volto ao quarto e me deito. Exatos três minutos depois, prestes a retomar meu sono quentinho, toca o telefone.

_Alô.
_É do banco xxxx?
_Sim, senhor. O que deseja?
_Eu estou tentando usar meu cartão para pagamento em débito e não consigo.
_ Pois não. Informe, por favor, o número da agência e conta que constam no cartão.
_ Agência 0080-3, conta 02000-234-8.
_Um momento por favor.

Aproveito para bocejar e considerar a hipótese de pedir uma senha. Concluo que é muita sacanagem. Decido não pedir nem o nome do indivíduo. Estou funcionando no modo automático. Vale ressaltar que o modo automático é cruel.

_Pronto, senhor. Desculpe a demora. O seu cartão foi bloqueado porque excedeu o limite estabelecido.
_Impossível! Eu não gastei com nada.
_Lamento, porém consta aqui compra no valor de mais de 12.000,00 em um shopping da cidade.
_Impossível!
_Como o valor excedia muito o seu limite tranferimos a maior parte da dívida para o seu cartão de crédito.
_Você está louco eu não vou pagar isso!
_Lamentavelmente iremos lançar seu nome ao SPC, bloquear todos os seus cartões, sua conta nesse banco, além de impedir que o senhor consiga crédito em qualquer lugar desse país.
_Com quem eu posso resolver isso?
_Por favor compareça à agência titular de sua conta, senhor.
_Mas minha agência é em São Paulo (estamos no Paraná).
_Lamento. Devo adverti-lo que serão cobrados juros sobre juros. Em poucas semanas sua divida triplicará.
_Não tem como resolver por telefone mesmo?
_não.
_Tá certo... obrigado.
_Não há de que.

Volto para a cama com uma infinita sensação de bem estar.