quarta-feira, 13 de junho de 2007

Ficção

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Fragmentos adolescentes.

Querido diário, hoje minha terapeuta sugeriu que eu iniciasse um diário. Aqui estou eu, muito prazer. Lamento não escrever meu nome, mas ainda não nos considero íntimos. Eu sei, eu sei. Parece meio louco. Concordo com você e acho que é assim que deve parecer. Afinal, não faço terapia à toa.

Confesso que escrever um diário pode vir a ser divertido. Eu morria de medo que ela - a terapeuta - ficasse indagando sobre desejos obscuros com minha mãe. No fundo acho que isso é normal. De qualquer maneira não vem ao caso, não vou ficar me abrindo para um estranho.

A princípio achei que não teria muito que escrever. Aí pensei que não precisava ser necessariamente um diário, mas quem sabe um “historiorário”. Algo que servisse para registrar passagens importantes de minha vida. Reitero que não tem nada a ver com a minha mãe. Odeio esse tipo de insinuação. Nem quero ficar me gabando de possuir passagens importantes em minha vida. E ressalto que isso não tem nada a ver com minha virgindade. Minha sexualidade não diz respeito a ninguém. Quer saber? Isso aqui já está ficando muito pessoal, vou parar de escrever. Seu palhaço!

Tudo bem, eu voltei. Desculpe os maus modos. Nem sei porquê pedir desculpas já que essas folhas são meras projeções de minhas reflexões, interjeições e considerações as quais apenas fazem referência às minhas confusões. Minha professora de gramática me mataria se visse tantos “ões”. A propósito meu nome é Roger.

Devo admitir que começo a considera-lo como um amigo. Um amigo meio petulante, ainda assim um bom amigo. Você também é virgem? É uma barra, né? Semana passada eu estava com a Glorinha naquela pracinha atrás do colégio. Sabe qual Glorinha? Aquela menina famosa do colegial. Todo mundo já comeu a Glorinha. Bem, ao menos todo mundo diz que já comeu a Glorinha. Eu não comi. Também não sou todo mundo. Minha terapeuta sempre insiste para que afirme minha individulidade. EU NÃO SOU TODO MUNDO!

A gente estava lá naquela praça... Agora que eu pensei: e se alguém ler isso aqui?

Amigo, vou te contar a história, mas tenho uma má notícia: irei queimá-lo assim que terminar. Eu não costumo matar pessoas que admiro, porém terei de faze-lo pelo nosso bem. Sendo bastante sincero, eu não costum matar nnguém. Ainda mais sinceramente digo que não chego a lhe considerar alguém, por isso vou mata-lo. Jura que não vai ficar chateado? Maravilha! Amigos são para essas coisas!

Eu sei que chegou uma hora que a Glorinha falou “me come”. Meu coração quase parou. Entre sair correndo e pecar pela estupidez, fiz o que pareceu ser mais sensato na tentativa de manter minha imagem: mordi o braço dela. Xingou-me horrores e foi embora arrumando o sutiã. Quase morri de tanto pânico! Eu sabia que ela queria ser comida metaforicamente, mas eu quase me caguei. Literalmente.

Foi aí que decidi que não poderia continuar virgem. Já estava ficando muito embaraçoso. O que diriam meus amigos? Como ser individual que sou entrei no “mercado livre” e comprei aquilo que desejava há tempos. Sabe o que é, né? Claro que não, você só é meu amigo há uns 40 minutos. Eu comprei a boneca. Chamei ela de Beth. Ela é meio gelada e caladona, mas pretendo perder a virgindade hoje à noite. Por enquanto estou tomando coragem. Beth é também o nome da minha terapeuta. Foi uma homenagem. Veio escrito no pacote que não é bom ir por cima. Pode arrebentar. O importante é que ela vibrante. Não metaforicamente, na verdade ela tem um mecansmo vibratório ali nos países baixos. Aliás, eu tive algumas dúvidas com relação à Holanda (entendeu a piada? hehe). Por exemplo, a Beth é usada. Será que posso pegar alguma doença? Aí pensei bem e concluí que a maioria das mulheres já vem usadas. A Glorinha com certeza. Isso não seria um problema na Beth. Gosto de mulheres experientes. Pelo menos acho que gosto. Pra ser sincero, e isso fica só entre nós, nem sei se gosto de mulheres. Gosto na teoria, mas não entendo bulhufas da prática. Nesse sentido eu deveria ser critico sexual. Muita teoria e nada de realização. A Playboy deveria me eleger sócio remido. Na dúvida vou usar camisinha.

Por hoje é só. Bem diário, devo dizer que foi um prazer imenso conhecê-lo. Espero que eu não tenha sido muito chato. Agora me despeço. Vou buscar o querosene e os fósforos. Eu nunca deixo de cumprir uma promessa. Pelo menos ESSA não vou deixar de cumprir. Se tudo der certo acho que vou abandonar a terapia. A Beth vai ser a solução de todos os meus problemas. A boneca, não a terapeuta. Com ela vou poder afirmar minha individualidade de homem sexualmente ativo. Primeiro a Beth, em seguida o mundo!

originalemente publicado no RPGX

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